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02.2021 - entrevista @ J.F. Alvalade, Lisboa


Nasceu em Luanda, em 1966 e vive e trabalha atualmente em Lisboa, cidade onde realizou a sua formação em Artes e onde, complementarmente, frequenta ações formativas apostando em áreas como desenho, gravura, cerâmica, ilustração ou caligrafia. Patrícia Magalhães é a autora da última exposição a passar pela galeria do Centro Cívico Edmundo Pedro, entre 24 de outubro e 20 de novembro do ano passado. Enquanto aguardamos pela reabertura do espaço ao público, deixamos-lhe uma curta entrevista à artista, guiada pela curadora deste espaço cultural da freguesia, Tânia Caeiro.


Como começou a tua relação com a pintura e o desenho?

Desenho desde que me conheço. Tenho memórias bem antigas – umas minhas e outras que me foram contadas em família – estava sempre a fazer bonecos, a rabiscar, a fazer pequenas esculturas com arames, a sobrepor vidrinhos coloridos… Recordo-me de reações aos meus desenhos, da primária ao secundário. Desenhar foi o que sempre quis fazer mas a vida, às vezes, atropela-nos e só muito recentemente é que consegui voltar a dedicar-me, por inteiro, ao desenho.


Quais/quem são as tuas influências?

Esta é difícil de responder. Genericamente, diria que a resposta seria ”tudo e todos”. Considero-me um recetáculo dos impulsos com que, permanentemente, me cruzo. Seja enquanto espetadora ou como interveniente, na partilha de experiências com outros artistas, no aprofundar de conhecimento, na experimentação de técnicas, enfim, acho que sou um somatório disso tudo, ao que depois se juntam outros estímulos que também mexem comigo, no cinema, na música, na simples contemplação da natureza ou do quotidiano… Para dar uma resposta mais concreta, se nesta fase tivesse que escolher algumas referências, então nomeava quatro gigantes: Henri Matisse e Constantin Brancusi por um lado, Álvaro Lapa e Joaquim Bravo, por outro.


Fala-nos um pouco do teu processo de trabalho e do dia-a-dia no atelier. Como é que este período de isolamento o está a alterar?

O meu processo de trabalho engloba várias atividades que não têm um tempo definido; duram o que tiver que ser, desde o pensar sobre os assuntos que me interessam – o que, invariavelmente, faz aparecer os primeiros desenhos – depois tento aprofundar esses temas com a informação que consigo reunir, faço mais desenhos, procuro diferentes abordagens e escolho as que quero perseguir, faço os estudos, às vezes sei exatamente o que quero, outras vezes vou experimentando, tomo decisões em relação à escala, aos materiais…

Esta fase de isolamento que atravessamos por causa da pandemia tem sido muito dura para todos. Muita gente não pode sequer trabalhar e os que conseguem, tiveram que se adaptar, alterar rotinas e o próprio desempenho – eu tenho a sorte de conseguir continuar, com as necessárias adaptações e adiamentos. Há que fazer ajustes, por exemplo, em casa eu não posso recorrer a algumas técnicas e materiais que uso no atelier e só consigo fazer trabalhos de dimensões reduzidas. E também tenho que conseguir lidar com a incerteza sobre o que se vai passar a seguir, quando acabar esta fase de isolamento: as exposições que não se realizaram, foram canceladas ou foram “só” adiadas e, nesse caso, quando é que poderão abrir? E os planos e projetos que estavam em curso, conseguiremos concretizá-los ainda este ano? Ninguém sabe e, assim, para mim o mais importante nesta fase é aceitarmos que esta situação, com todas as limitações, desafios e adaptações a que nos obriga, é uma oportunidade única para vermos as coisas com outra perspetiva e para meditar sobre assuntos que, antes, provavelmente nunca nos ocorreriam.


Tens/tiveste mais ocupações? De que maneira contaminam o teu trabalho artístico, ou vice-versa?

Trabalhei quase vinte anos numa multinacional, em funções comerciais e de marketing, onde a criatividade e o pensar “fora da caixa” sempre me trouxeram bons resultados. Apesar de me absorver muito, durante esse tempo mantive-me ativa e sempre desenhei e pintei.

É importante para ti que aquilo que fazes se relacione com o mundo/ política/ sociedade de hoje? De que maneira?

É importante e é inevitável, mas não é o único foco do meu interesse quando pretendo exprimir-me através do desenho. Os meus trabalhos não são statements… Como disse atrás, quando referi a questão das minhas influências, o que faço são interpretações do que me rodeia, do que me aflige, do que me encanta, do que me interessa. É um processo diário de “digestão” e não sei explicar porque é que alguns assuntos ficam comigo mais tempo ou mais profundamente…

Para terminar, queres partilhar connosco o que andas a ver e a ouvir nos tempos livres?

Felizmente há imensas entidades (públicas e privadas, coletivas e individuais) que optaram por disponibilizar graciosamente conteúdos, por partilhar experiências e criar momentos com todos os que quisessem fruir – e eu sou uma privilegiada porque tenho um computador e ligação à internet, e isso é quanto basta para aproveitar essas oportunidades. Vou partilhar um pouco: fiz a minha primeira exposição online, faço visitas virtuais a grandes museus de arte, nacionais e internacionais, desenho todos os dias, no atelier ou em casa, vejo filmes e assisto a bailados e performances espetaculares e oiço muita música – neste momento, por exemplo, toca Ibrahim Maalouf.


Saiba mais sobre a autora

Instagram: www.instagram.com/patricia_reis_de_magalhaes/



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