Esta série integra catorze desenhos que fiz em residência artística na ilha do Faial propositadamente para a exposição que esteve patente no Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, de 27 de Setembro (data em que se assinalou o 66º aniversário da erupção de 1957) a 8 de Outubro de 2023.
O título da exposição é retirado do poema "Na ilha por vezes habitada" de José Saramago, em cuja vida - como disse a sua mulher Pilar del Río durante as celebrações do centenário do autor - "sempre houve a intuição da ilha", bem como o "impulso poético e também uma possibilidade de futuro". Como se ele adivinhasse que, muitos anos depois, viveria, escreveria e morreria numa ilha.
Quando visitei os Capelinhos pela primeira vez, retive as imagens brutais daquele cenário incrível. Essas imagens tornaram-se tão persistentes dentro de mim que, mais tarde, me propus fazer uma exposição neste lugar, onde parece que assistimos a um confronto entre o antigo farol, deixado em ruínas, e o moderno edifício do Centro de Interpretação, enterrado na paisagem vulcânica "recente", onde temos a inevitável perceção de quanto o mar já reclamou, gradual e dissimuladamente, ao que o vulcão então acrescentou. Como se testemunhássemos o nascimento e a morte daquelas pedras. É um lugar absolutamente efémero.
Pela possibilidade de realizar e expor estes trabalhos, reafirmo o meu agradecimento à Secretaria Regional do Ambiente e das Alterações Climáticas e ao Centro de Artesanato do Capelo, que o tornaram possível.
Sem título #1 a #14 (da série Faial), 2023
cola, transferência de impressão, grafite e acrílico sobre papel
70x100 e 100x70 cm